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Sob a Lente Azul

Já muito se disse sobre a realidade ser a interpretação de cada um. É inegável que nossa intenção, nossa bagagem de conhecimentos e experiências, nossas crenças e os sentimentos que desenvolvemos dão o tom ao que vemos e escutamos. Um ponto de vista particular. Nessa condição de pandemia, por exemplo, tão atual e difícil, há os que a classificam como natural, biológica (epidemias ocorrem e sempre ocorrerão), há os que destacam a irresponsabilidade política, os que veem como um desafio no qual aprendemos com a dificuldade, há os que entendem como uma oportunidade de mudança de hábitos, de relação com o outro, de reencontro com o que de fato tem valor.

Temos diferentes pontos de vistas sobre, absolutamente, qualquer coisa. Particularmente, tenho a tendência de usar nos meus pontos de vista uma “lente azul”, nenhuma preferência específica pela cor, apesar de gostar muito dela, mas pela expressão “tudo azul” significar, também, entre nós, “tudo bem”. Não se trata de nenhum complexo de Poliana, personagem símbolo do otimismo e da resiliência, mas de uma constatação simples, do que é bom, profundo, inteligente e criativo. E por que vejo isso? Porque procuro.

Hoje mesmo, acessando as redes sociais, me deparei com textos incríveis, de autores notáveis, como Cora Coralina, Ariano Suassuna, Mário Quintana, textos de pessoas desconhecidas do público e nem por isso menos perspicazes sobre a natureza humana, músicas que elevam a alma a patamares acima do trivial, ações triviais que alçam o ser humano à condição de alma elevada, e não falo aqui de alma no sentido religioso, mas como um aspecto transcendente da pessoa.

Filtro o que vejo, escolho com cuidado. Coloco a lente azul mesmo. E isso não significa alienação, negação, desinformação, pois igualmente estou a par do obscuro, da ignorância e da dor, fora e dentro de mim. Apenas prefiro a luz, o conhecimento e a bondade. São elas que me inspiram a querer ser melhor e a acreditar num futuro melhor. Tudo o que falamos, mostramos, compartilhamos, reverbera em alguém, e desse prisma, nossa responsabilidade extrapola do pessoal para o coletivo. Se eu impactar alguém, de alguma forma, que seja positivamente, é minha ambição.

Me sinto verdadeiramente grata por toda palavra escrita, falada e cantada, toda música, todo gesto que suscitaram em mim algo melhor. Que produziram, ainda que brevemente, um sentimento superior, esclarecido. O caminho da evolução pessoal é longo, mas como uma trilha de migalhas, as boas palavras e as boas ações mostram o caminho. Sim, prefiro ver o mundo sob a lente azul.


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