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Ser feliz

Se existe unanimidade no ser humano, de qualquer idade, localização geográfica, status sócio econômico, cultura, crença, nível de educação formal e qualquer outra variável que descreva nossa condição de indivíduo, é a vontade de ser feliz.

Assim, não surpreende termos estudos como o World Hapiness Report (Gallup/ONU), que monitora o estado de felicidade por país no mundo, termos aqui mesmo no Brasil o “Como vai a vida? Entendendo a economia da felicidade” – um levantamento da Fundação Getúlio Vargas, termos um país – o Butão, na região do Himalaia – que instituiu um índice nacional de felicidade, o FIB – Felicidade Interna Bruta, e termos até um Dia Internacional da Felicidade, 20 de março.

Também não espanta que a pesquisa sobre felicidade nas universidades tenha aumentado. Para se ter uma ideia, se consultarmos o Psycho Info – banco de dados de publicações acadêmicas na área da psicologia – e colocarmos no campo de busca a palavra bem-estar (well-being), no ano 2000, temos citadas apenas 16 publicações. Em 2020, temos 80. E só estamos na metade do ano. A comunidade científica volta seus olhos para a felicidade, o que a determina e como atingi-la.

Martin Seligman, um dos precursores da Psicologia Positiva e autor do livro Felicidade Autêntica – recomendo a leitura, farto embasamento acadêmico e linguagem agradável para nós leigos – diferencia a vida agradável, aquela pródiga de prazeres – nada mal, não é mesmo? A vida boa, um passo à frente na linha da felicidade, obtida pelo exercício de forças e virtudes, e a vida significativa, em que a felicidade é alcançada por um significado elevado na existência. O prazer, exclusivamente, é agradável, mas um dia a alegria que proporciona acaba e o indivíduo se sente vazio. O desenvolvimento das forças (habilidades pessoais) e virtudes pode preencher esse vazio, a felicidade aumenta e se torna autêntica, consistente. Porém, se colocar um propósito na vida, ancorado sobre as forças e virtudes que desenvolveu, o ser humano atinge os maiores níveis de felicidade.

Compreender os mecanismos que nos fazem estar mais satisfeitos com a vida possibilita colocar um foco, um sentido no nosso empenho. A que ou quem dedicar meus esforços para dar significado a minha vida? Um familiar, um amigo, uma ideia, uma causa, uma comunidade, o mundo inteiro? Note que o significado fica maior na medida em que o objeto a que nos dedicamos se distancia de nós, se torna mais impessoal e anônimo e não temos como esperar reconhecimento ou recompensa direta, somente a satisfação íntima de ter colaborado para o bem.

E eu especulo sobre a força e a grandeza dessa satisfação íntima, da sua natureza intrínseca capaz de nos trazer os mais altos níveis de felicidade e também de impulsionar grandes mudanças coletivas, a partir da iniciativa de cada um. Virtude, propósito, bem, felicidade – um ciclo virtuoso que pode nos dar o que de forma unânime desejamos: ser feliz.

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