Patanjali, autor dos Yogasūtras, o mais antigo tratado sobre Yoga que chegou aos nossos tempos, com definição, objetivo, práticas e orientações morais para os praticantes, escrito, estimam os historiadores, por volta do século II a.C., nos traz no sutra II-33 “Quando a mente é perturbada por pensamentos impróprios, a constante ponderação sobre os opostos é o remédio”. *
Cabe aqui explicar que os Yogasūtras são aforismos, sentenças curtas — para serem memorizadas facilmente, e com profundo significado para reflexão. Cada sutra é identificado por um número, sendo 196 sutras ao todo, e a palavra “sutra” significa “linha” em sânscrito e está na origem da nossa conhecida palavra “sutura”. Dito isso, voltamos ao sutra mencionado e a sua utilidade nos nossos dias — sobre como meditar sobre os opostos pode ajudar.
É impossível dizer ao nosso cérebro “não pense” — ele já pensou. Tente ordenar “esqueça! — e ele lembra! O que fazer? Pense no oposto. Exemplo simples. Doença, pandemia, vírus. Todo dia nos deparamos com essas questões a todo o momento, desde uma simples conversa com um vizinho que encontramos na calçada, aos meios de comunicação e mídias sociais, nas conversas com familiares e colegas de trabalho. Em certos momentos, saturamos e necessitamos de uma pausa, um recreio para a mente. O que fazer? Pensar no oposto! Na situação de saúde, que certamente, cedo ou tarde, se restituirá, no que pode nos deixar mais saudáveis hoje, no que podemos colaborar com a saúde coletiva. Bom começo, certamente, concorda?
Quando nos inquieta a carência, emocional ou material, levar a mente a pensar no que podemos doar ao outro minimiza o sofrimento. Muda o foco. Posso doar roupas e alimentos, mas igualmente doar uma palavra de consolo e estímulo, doar meu tempo, a minha força física, a minha singela capacidade de me deslocar até o supermercado e fazer as compras para alguém que não pode. Doar afeto. Se o que me aflige é o que desconheço, penso em como obtenho a informação, se o que me perturba é o medo, medito sobre coragem e segurança. O mesmo raciocínio vale para ódio, pensar nos opostos amor, ternura, carinho. Para revolta, vale colocar o pensamento em serenidade, abnegação. E assim por diante.
Falando assim, parece bem óbvio. E é. O que ocorre é que enredados pela perturbação e pelo sofrimento, focados demasiadamente neles, não enxergamos a saída óbvia. Sim, falar é mais fácil do que fazer, porém pensar dessa forma é um começo razoável e antecede a ação. Não se trata de fórmula mágica, no sutra Patanjali diz “constante ponderação sobre os opostos” e constante sugere tempo, persistência, disciplina e vontade. É um exercício contínuo, ao alcance de todos que procuram bem viver.
*A Ciência do Yoga, I.K. Taimni, 2011, Ed. Teosófica.
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