Ontem assisti pela segunda vez o filme Green Book – vencedor do Oscar de melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro em 2019. Provavelmente, ainda assistirei outras vezes – sempre é assim com filmes que me tocam.
O filme, inspirado numa história real, começa quando o ítalo-americano Tony, um tipo truculento e pavio-curto que reproduz nas suas atitudes os matizes do racismo nos Estados Unidos da década de 1960, necessita de trabalho e aceita ser o motorista de um famoso pianista afro-americano, doutor em psicologia e música, virtuosíssimo e aclamado internacionalmente, Dr. Don Shirley, durante uma turnê de oito semanas pelos estados do sul, região na qual o racismo segregacionista imperava na época.
Não tenho pretensão alguma nesse comentário, não faço crítica de cinema, nem sociológica, simplesmente quero compartilhar o que mais me encantou no filme e o que ele me fez pensar. Para além da questão da injustiça e do preconceito racial, exposto de forma até amena, no ponto de vista de alguns, o que fica evidente é a paulatina empatia que se desenvolve entre o italiano e o pianista erudito. E é sobre a empatia que quero me debruçar.
Aos poucos, Tony, tomando contato com as dificuldades enfrentadas por Shirley nas questões racial, social, familiar e sexual, por um lado, e conhecendo os seus valores, ética, coragem, dignidade, por outro, abaixa a guarda e permite que uma sincera e leal amizade se inicie ali. Don Shirley, igualmente se modifica, deixa sua postura sofisticada e reservada de lado e acaba incorporando alguns traços do modo de vida de Tony, se permitindo maior alegria com as pequenas coisas da vida, além de empreender esforços para lapidar as atitudes e as palavras do rude auxiliar, especialmente nas cartas que este escreve para a esposa. Conta o filme, nos créditos, que a amizade entre eles continuou por toda a vida.
Refletindo, creio que a empatia é, de verdade, a grande chave para o entendimento entre as pessoas, nos níveis dos relacionamentos pessoais, numa sociedade, num país ou no planeta. Parece tão simples, não? Então, qual a dificuldade de nos colocarmos no lugar do outro? Procurar sentir o que o outro sente, o que o motiva, o que o faz sofrer, o que o fez ser o que é e, talvez, descobrir pontos em comum entre ele e nós?
Desenvolvendo empatia, ficamos menos refratários, mais tolerantes, tratamos o outro com mais respeito, dignidade e compreensão. E a resposta do outro? Existe a forte possibilidade de ser igualmente mais empática, tolerante e digna. Lembrou da frase “é dando que se recebe?”.
Desenvolver empatia cria, enfim, uma ponte para o entendimento, abrindo caminho para a colaboração, para o crescimento mútuo, e, por que não dizer, para o afeto. Muito mais construtivo do que a recriminação pura, o desprezo e o ódio. Uma ponte para a resolução dos conflitos. Uma ponte para a construção da fraternidade.
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