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Deixar Ir

Deixar ir. Ah, se fazer fosse tão fácil quanto falar! Mas não é, e, no entanto, é preciso.

Muitas vezes adiamos uma faxina geral em nossas coisas, objetos de uso, porque já imaginamos o trabalho que dará e, fala a verdade, há um componente chamado apego que nos confunde sobre o que guardar, o que organizar e o que deixar ir. Da mesma forma, adiamos, muitas vezes, a faxina existencial, igualmente separar o que guardar, o que organizar e o que devemos, simplesmente, deixar ir.

Com o passar do tempo, mudamos, amadurecemos, trocamos de opinião, ampliamos nosso arsenal de conhecimentos e a nossa demanda também muda. Idem para as nossas metas. Então fica a dúvida, se não é mais minha meta, por que continuar investindo nela? Ocupar meu tempo, minha mente e minha energia com o que não mais representa minha ambição, mesmo que eu guarde ainda uma nostálgica simpatia por ela?

Será que aquilo que já acreditamos ser bom para nós um dia, uma profissão, atividade, modo de pensar ou entender a vida, o que for, mas que deixou de ser, não se torna um peso que carregamos desnecessariamente, exatamente como aquele armário entulhado de coisas que não usamos, de que não gostamos mais, onde não temos mais espaço para colocar nada novo?

Por outro lado, tem aspectos da vida que não nos contentam mais, porém, as circunstâncias não permitem deixar para trás, como um emprego do qual não gostamos, mas precisamos dele para nos sustentar. Nesse caso, cabe organizar o melhor possível e se preparar para promover uma mudança no futuro, fazer uma capacitação, um curso, traçar estratégias, identificar quem pode ajudar na transição.

Por fim, guardar o que realmente vale a pena e tenha significado. Quando removemos tudo o que não queremos e identificamos o que precisamos organizar, se torna mais fácil enxergar o que se quer guardar, o que se quer manter. Aquilo que nos enche de satisfação. Comparando com a arrumação do armário, é olhar para dentro, ver cada coisa importante em seu lugar e aquele espaço vazio destinado a acomodar as novidades, as novas possibilidades. Aquilo que for capaz de nos fazer sentir ânimo e vontade de seguir em frente, que ocupa prazerosamente os nossos pensamentos e que faz nosso esforço, mesmo quando intenso, ser agradável.

A faxina do armário ou a existencial acontece, cedo ou tarde. Quando, entretanto, nos antecipamos e não deixamos chegar numa situação crítica, fica mais fácil de organizar, uma e outra. Que sejamos lúcidos, corajosos e eficientes nessa arrumação, para que possamos seguir mais leves, evitando a angústia pelo que não nos representa, pelo que de fato não consideramos mais bom para nós, buscando com tenacidade o que tem significado e o que nos faz sentir bem, alegres e realizados.




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