Nunca as palavras yoga e meditação apareceram tanto como agora, nessa situação de pandemia e isolamento social.
No meu caso, assim que nos recolhemos em casa, a família toda, meus filhos de 19 e 21 anos, eu e meu marido – todos com seus trabalhos home office e aulas on line - pensei “pelo menos vou ter tempo de fazer a prática de yoga diariamente”, frequência que ainda não havia conseguido nesses anos.
E cumpri meu programa? Bem, gravei vídeos e áudios caseiros de yoga para os meus alunos usarem como apoio nas suas casas, mas a minha prática individual? Quase nada! O motivo não foi, de fato, falta de tempo, embora as tarefas domésticas, as leituras, as demandas finais para a publicação do livro e do site, entre outras atividades, ocupassem bastante meu dia. Tempo para o Yoga e a meditação tinha. O que faltou?
Minha justificativa era a falta de um local com espaço, calma e privacidade para praticar as asanas (posturas) e a meditação, afinal os cômodos do apartamento que me permitiam ficar isolada já estavam ocupados por quem demandava um lugar silencioso e sem interrupções para atividades com hora marcada. Para mim, em geral, sobrava a sala, o que eu não considerava ideal, pois é passagem para a cozinha, frequentemente visitada por todos, e ainda é o território preferencial do cachorro, que adora deitar no meu tapete de yoga e não perde nenhuma oportunidade para isso (é fofo, mas rouba minha atenção).
Eventualmente, tomava posse da salinha da televisão, quando não estava sendo usada para alguma aula à distância, mas acabava desistindo, pois é ali também que se guardam livros, se assiste as séries por streaming, se acessa o videogame, meu filho toca seu violão, enfim, é um lugar para o lazer de todos e eu ficava com certo peso na consciência por monopoliza-lo por algo que simplesmente poderia fazer depois – “amanhã eu faço”. E o amanhã nunca chega. De fato, o amanhã nem existe.
O tempo foi passando e eu ficando incomodada – casa de ferreiro, espeto de pau?!
A questão me fez refletir sobre vontade e prioridade: Eu realmente queria fazer a prática diariamente? “Acorda antes do sol nascer - sussurrou uma vozinha interna. Perfeito, mas... E o sono? “Dorme mais cedo” - rebateu a voz impertinente.
E funcionou! Foi difícil nos primeiros dias, mas incorporei rapidamente esse novo horário à rotina. Hoje estou mais confortável no corpo, na mente e na consciência. É uma pena ter levado tantos dias chateada por uma coisa tão simples de resolver. Uma solução um pouco trabalhosa, mas inequivocamente simples. Entretanto, não é sempre assim? O que vale a pena não dá trabalho? Vejo como isso se repete na vida, postergar, ficar imóvel, apenas reclamando que não dá ou que é difícil. Ficou a lição. Apenas mais uma das tantas que a quarentena me trouxe...
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