Momentos difíceis evidenciam as fraquezas que ainda habitam o ser humano. É fácil ser gentil e solidário na abundância, porém, a escassez instiga o individualismo. Muito se tem pensado e dito sobre o momento atual de pandemia, e não deixo de fazer as minhas ruminações sobre o tema também.
Que é doloroso, não se discute, que o digam os que perderam seus afetos para a doença, os que não se empregam, os incontáveis que passam privações. Não esperávamos mais passar por questões sanitárias tão abrangentes com tantos avanços que a medicina conquistou — a penicilina só foi descoberta em 1928 e em menos de cem anos vejam o nível de complexidade diagnóstica e terapêutica que atingimos!
Mas o fato é que aconteceu e desse fato terrível extraímos um aspecto positivo que é o de apontar o que devemos melhorar. Nossos hábitos, nossas relações pessoais, nossas ambições, serão os mesmos após findar essa pandemia?
E nossos valores? Aprenderemos algo sobre a força e a fragilidade humana? Seremos mais pacientes, mais diligentes, mais persistentes em nossos objetivos? Seremos mais sábios, generosos, mais compreensivos e gratos? Ou, ao contrário, sairemos dessa experiência com mais ignorância, ódio, revolta e sectarismo?
No plano coletivo temos um desafio enorme, na alocação de recursos, no desenvolvimento de políticas públicas, na pesquisa científica e na gestão da crise, e o cidadão comum pode e deve tomar parte disso, buscando o conhecimento correto, se manifestando pelos canais competentes e, futuramente, nos pleitos que tomará parte, fazendo escolhas conscientes. Mas quero aqui falar do que podemos fazer no âmbito pessoal, se no coletivo temos que nos entender com o ponto de vista de todos, no individual depende exclusivamente de nós.
No contexto íntimo, importa como reagimos à adversidade. Cólera ou serenidade? Revolta ou resignação? Esperança ou desânimo, lucidez ou obscurantismo, soberba ou humildade, egoísmo ou caridade? Quantos valores positivos podemos escolher desenvolver ou dilatar! E vamos compreendendo, enfim, que a luta maior é a do homem consigo mesmo e não com o outro, e se nos empenharmos nessa luta própria, a soma do adiantamento de cada um resultará no progresso do todo. Quando me sinto desencorajada diante dos desafios do coletivo, volto com mais força ainda o olhar para mim mesma, se o mundo ainda demanda tempo para se arrumar, posso começar a arrumar a minha própria casa desde já.
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