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Gramática da Felicidade

GRAMÁTICA DA FELICIDADE


Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos)

e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês,

cheia de altos e baixos - uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo

a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o homo sapiens. Mais

felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um

tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros...

(Mário Quintana)


Continuo minha saga, caro leitor, de escolher poesias de Mário Quinta para os posts de julho. E continua muito difícil eleger, me perco lendo e selecionando, essa, não, essa aqui. Ai, meu Deus, é ESSA... E quanto mais leio, mais mudo de ideia!

Bom, acabei por trazer a Gramática da Felicidade por que fala de algo que eu realmente acredito — tenho me esforçado, nesse sentido — que é focar a mente no momento presente.

No mínimo é lógico, e, vamos combinar, facilita muito a vida, além de deixá-la bem mais produtiva.

Quanto tempo perdemos relembrando o passado? Perto ou distante, é sempre passado, já foi. Um instante de júbilo pelo que foi bom, uma rápida autocrítica e uma mínima reprimenda pelo erro, se for o caso, está de bom tamanho, permanecer no passado é se enterrar vivo.

Do lado oposto, de que adianta viver no futuro? No dia em que eu fizer, tiver, ver, viver? Vale mesmo a pena viver no futuro? A única concessão quanto ao futuro é o sonho, mas não podemos nos demorar demasiadamente nele, sob pena de perder a oportunidade, a janela de tempo em que é possível torná-lo realidade com nossas próprias mãos. Sonho é bom, na dose certa. Mas — você pode argumentar — planejar o futuro é importante! Claro, porém planejamos o futuro no presente, o que faço hoje é o que se concretiza no amanhã. Eu planejo, tu planejas, ele planejas... Presente! Se a conjugação for planejei, é passado, já passou, e, convenhamos, planejarei não tem o menor sentido.

Viver o presente não só é mais eficiente, também faz a vida mais simples, salientando que simples não quer dizer fácil, quer dizer descomplicado. Lamentar o passado ou mesmo idealizá-lo, acreditando que nunca mais será feliz como já foi, ou se preocupar ansiosamente com o futuro, é ou não uma complicação dispensável e desnecessária? E se é dispensável, por que nunca antes sofremos tanto de ansiedade e melancolia?

Focar nossa mente e nossas ações no presente, único momento em que de fato podemos agir, único momento em que podemos dar o melhor de nós, significa sentir com mais intensidade o que se vive, aproveitar nossas potencialidades ao máximo, porque nossa mente está inteira no que estamos fazendo, colher os frutos e prosseguir motivado. Fica a sugestão do poeta, seguir a gramática imediata do presente do indicativo, ou vamos mesmo “maluquecer” como espécie!


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